"Como eu permiti isso?"

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Se você já viveu um relacionamento tóxico, existe uma pergunta que assombra suas noites: "Por que eu fiquei? Por que eu voltei tantas vezes, mesmo sabendo que era ruim?"

A sociedade (e talvez seus amigos) dizem que foi falta de amor próprio. Você talvez ache que foi fraqueza ou estupidez.

Mas eu estou aqui para te dar a absolvição científica: Você não ficou por amor. Você ficou por causa da Dopamina.

Para entender o abuso, precisamos entender como funcionam as máquinas de caça-níqueis (Slot Machines).

Se você jogar em uma máquina e ganhar todas as vezes, você perde o interesse rápido. Fica chato. Se você jogar e nunca ganhar, você desiste e vai embora.

Mas... se a máquina te der um prêmio de forma aleatória e imprevisível – às vezes sim, às vezes não, sem padrão lógico – o seu cérebro entra em um estado de obsessão.

Na psicologia comportamental, isso se chama Reforço Intermitente. E é a ferramenta mais poderosa de manipulação que existe.

O Ciclo Químico do Abuso:

O parceiro abusivo não é ruim 100% do tempo.

Se fosse, ninguém ficaria. Ele é ruim, frio e cruel. Isso inunda seu cérebro de Cortisol (o hormônio do estresse e do medo). Você entra em modo de sobrevivência.

De repente, ele te dá uma migalha. Um elogio, um pedido de desculpas choroso, uma noite incrível, um presente.

Nesse momento, seu cérebro recebe uma injeção massiva de Dopamina (o hormônio do prazer e recompensa).

O alívio é tão intenso justamente porque a dor anterior foi grande.

O seu cérebro aprende a seguinte equação perversa: "A pessoa que causa a dor é a única que pode tirá-la."

Isso cria o Vínculo Traumático (Trauma Bond).

Biologicamente, é o mesmo mecanismo do vício em heroína. O viciado não usa a droga para ficar "feliz", ele usa para parar a dor da abstinência que a própria droga causou.

O Sequestro da Amígdala

Durante esse ciclo, a parte lógica do seu cérebro (Córtex Pré-Frontal), responsável pelo planejamento e julgamento, começa a desligar.

Quem assume o controle é a Amígdala (o centro do medo e da emoção).

Você literalmente não conseguia "pensar" na saída porque seu cérebro estava ocupado demais tentando sobreviver às oscilações químicas.

Por que saber disso importa?

Porque tira o peso das suas costas. Você não era "burra". Você estava lutando contra uma tempestade neuroquímica projetada para te viciar.

A recuperação de um relacionamento abusivo não é um "término". É um detox. Você vai sentir abstinência. Você vai ter recaídas mentais. Seu corpo vai pedir a droga (o ex).

Mas agora que você sabe que isso é química e não destino, você pode tratar a situação com a estratégia correta: Contato Zero.

Cortar o fornecimento é a única forma de o cérebro voltar a produzir dopamina em coisas saudáveis e estáveis.

Seja gentil com sua recuperação. Você não está apenas curando um coração partido; você está reconfigurando sua biologia.

Você é mais forte do que sua química.

Com carinho,

Sara Souza

Obrigada por ler até aqui e até a próxima. 🌹

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