O estilo de vida montanha russa

Eu sei que você já passou por isso: Você pega seu celular, olha as notificações, entra no WhatsApp, responde algumas mensagens e guarda seu celular. Um minuto depois, ou até menos, você pega seu celular de novo para olhar as notificações ou entrar em alguma rede social.

No instante que você pega seu celular, olha as notificações e responde uma mensagem ou entra na rede social, há uma sensação de felicidade. É justamente por termos acesso a esses picos de felicidade de forma muito rápida que nos tornamos cada vez mais insatisfeitos.

Existe uma doutrina filosófica que é praticada de forma inconsciente pela sociedade: A doutrina hedonista.

O hedonismo é definido como uma doutrina que considera o prazer o objetivo supremo da vida. Ou seja, busca maximizar o prazer e minimizar a dor.

Exemplos de comportamentos que se praticados em excesso se tornam vícios que promovem o prazer instantâneo.

• Comer de forma desenfreada doces e fast foods.

• Passar boa parte do tempo assistindo filmes, jogando videogames ou indo em festas.

• Adiar ou evitar tarefas que são vistas como tediosas, difíceis ou desagradáveis, como estudos ou trabalho.

• Preferir interações sociais e relacionamentos que tragam prazer e satisfação imediata, evitando compromissos, conflitos ou discussões difíceis.

A busca incessante por gratificação imediata, que muitas vezes custa a nossa integridade e bem-estar a longo prazo, nos conduz a um estado de existência que se assemelha ao instinto animal.

Os comportamentos viciosos são manifestações das partes mais primitivas e sombrias de nosso ser. Vícios como esses não só corroem nosso caráter, mas também nos afastam dos valores que promovem uma vida equilibrada e significativa.

A virtude, em contraste com a doutrina hedonista, exige autodisciplina, reflexão e um compromisso contínuo com o crescimento pessoal. A prática das virtudes — como a coragem, a temperança, a justiça e a sabedoria — eleva nosso ser, permitindo-nos agir não apenas por impulso, mas guiados por princípios e ética.

As virtudes nos incentivam a pensar além de nossos desejos imediatos e a considerar o impacto de nossas ações sobre nós mesmos e sobre os outros no curto e longo prazo.

Quando nos rendemos aos nossos comportamentos viciosos, permitimos que nossa natureza mais primitiva e instintiva assuma o controle. Nesse estado, reagimos impulsivamente, sem considerar as consequências de nossas ações. Essa falta de autocontrole e de reflexão nos faz parecer mais com animais, que agem baseados em instintos básicos de sobrevivência e gratificação imediata.

Vivendo pela recompensa

Viver de recompensa = Viver de dopamina.

A dopamina é um neurotransmissor do cérebro, mas ele não é o hormônio do prazer.

Anna Lembke diz que a dopamina está muito mais ligada à motivação, com destacada atuação no sistema de recompensa cerebral. A sensação de prazer possui diferentes componentes químicos envolvidos.

Quando os níveis de dopamina sobem em resposta a algo que ingerimos ou fizemos, o corpo sente prazer, recompensa, euforia. Por isso, nós sempre estamos buscando criar essas sensações de novo.

Por que isso é tão perigoso? E por que estamos ficamos cada vez mais insatisfeitos após o efeito da euforia?

O nosso organismo procura estabelecer um equilíbrio interno, chamado de homeostase. Ou seja, se o nível de dopamina está gritando, o corpo tenta compensar o outro lado da balança.

É como se fosse uma descida em uma montanha russa, a dopamina te puxa pra cima, mas logo te leva para baixo após uma experiência prazerosa, é o que eu chamo de efeito rebote. Às vezes essa descida ocorre de forma brusca, como a ressaca, após a bebedeira. Mas ela também pode surgir de forma muito mais sutil.

A dopamina gosta de extremos, no mesmo instante que ela está no alto, ela também pode estar lá em baixo. Por isso, tudo que traz prazer, possui um preço. E o preço é uma sensação temporária de abstinência.

Alguns sintomas que vemos claramente pela abstinência: ansiedade, irritabilidade ou depressão.