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A Dualidade dos Obstáculos nos Relacionamentos
Metamorfose - Edição #071

A Dualidade dos Obstáculos nos Relacionamentos Humanos
Talvez você sinta alívio de encontrar um muro, pois para você pode ser a solução para o desconhecido que você não queria lidar.
Ao longo da história, os muros foram símbolos ambíguos, servindo tanto como barreiras quanto como pontos de proteção.
Em sociedades antigas, cidades fortificadas confiavam em muros para manter seus habitantes seguros contra invasores. No entanto, esses mesmos muros que protegiam também isolavam, limitando o acesso ao mundo exterior.
Na psicologia, os muros representam as defesas que construímos para nos proteger de traumas, rejeições ou dores do passado.
Embora essas barreiras possam oferecer uma sensação de segurança temporária, elas também podem impedir novas experiências e aprendizados.
Em última instância, um muro pode ser um refúgio ou uma prisão – a diferença está na forma como lidamos com ele.
Essa dualidade dos muros não se manifesta apenas na sociedade e na psique individual, mas também nos relacionamentos humanos.
Em nossa jornada relacional, frequentemente nos deparamos com obstáculos que podem nos limitar ou nos libertar, dependendo da maneira como os interpretamos.
O Alívio Limitante: A Segurança da Estagnação

Bloqueie o que te bloqueia
A dor é o megafone de Deus para despertar um mundo surdo.
O primeiro tipo de alívio surge quando usamos o obstáculo como justificativa para permanecer onde estamos.
A dor, como C.S. Lewis apontou, é como um megafone. No entanto, quando preferimos o alívio da estagnação, estamos preferindo a surdez à dor transformadora.
O alívio limitante é aquele que vem quando desejamos permanecer onde estamos, de não precisar enfrentar o desconhecido ou assumir novos riscos (mesmo que o lugar atual seja desconfortável).
Este alívio atua como uma auto-permissão para não mudar, não crescer, não se aventurar além do confortável e familiar.
Exemplo: Uma pessoa que permanece em um relacionamento emocionalmente distante por sete anos.
Esse muro de indiferença a protege de enfrentar suas próprias inseguranças quanto à intimidade. Ela justifica a situação dizendo "pelo menos temos estabilidade", quando na verdade está fugindo de um desconforto necessário para viver um amor verdadeiro.
O muro da distância emocional tornou-se seu refúgio, não sua prisão.
Nos relacionamentos, este fenômeno se manifesta quando:
Permanecemos em amizades superficiais para evitar a vulnerabilidade
Mantemos dinâmicas familiares disfuncionais porque "sempre foi assim"
Evitamos compromissos mais profundos com parceiros por medo da intimidade verdadeira
Esse medo nos faz abraçar o muro como protetor em vez de percebê-lo como limitador.
O filósofo Kierkegaard chamou isso de "desespero do possível" – o terror paralisante diante das infinitas possibilidades que nos leva a preferir a limitação conhecida.
Na tradição cristã, encontramos eco deste conceito na parábola dos talentos, onde o servo que recebeu um talento o enterrou por medo, encontrando um falso alívio em não arriscar, mas perdendo a oportunidade de crescimento e multiplicação.
O Alívio Libertador: A Graça do Redirecionamento
O segundo tipo de alívio vem quando o obstáculo nos força a mudar de direção, levando-nos a um caminho mais autêntico.
O alívio libertador é o que sentimos quando um obstáculo nos força a mudar de direção e, nesse redirecionamento, descobrimos um caminho que está alinhado com o que gostaríamos de viver.
É o alívio de ter a oportunidade de "escrever uma nova história". Este obstáculo nos empurra para possibilidades que talvez nunca teríamos explorado voluntariamente.
Exemplo: Você descobre infidelidade no casamento após 12 anos. A devastação inicial deu lugar a um sentimento que ele demorou a reconhecer como alívio.
Este "muro" da quebra de confiança o forçou a enfrentar problemas que ambos haviam ignorado por anos.
Durante o doloroso processo de separação, você redescobriu sua voz, seus valores e seu propósito. Três anos depois, você percebe:
"Aquela traição, embora dolorosa, me libertou de um relacionamento onde eu havia perdido minha essência. Foi um muro que eu nunca teria coragem de escalar voluntariamente, mas que me levou a um território de autoconhecimento que eu nem sabia que existia."
Nos relacionamentos, esse redirecionamento se manifesta quando:
O fim de uma relação tóxica abre espaço para conexões saudáveis
Uma traição dolorosa nos ensina sobre perdão e a importância de limites claros
Um conflito familiar nos obriga a desenvolver maturidade emocional e comunicação autêntica
Dietrich Bonhoeffer, teólogo alemão, escreveu que "o teste do caráter moral de uma sociedade é o que ela faz por suas crianças."
De forma similar, o teste de nosso caráter individual é como respondemos aos muros que encontramos, vendo-os como sentenças finais ou como convites para novas direções.
Filosoficamente, podemos encontrar paralelos no conceito de "amor fati" de Nietzsche. O amor pelo destino, inclusive pelo sofrimento, reconhecendo seu poder transformador.
Quando não podemos mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos
A Resposta ao Muro: A Arte do Discernimento
Na tradição cristã dos relacionamentos, o discernimento – a capacidade de julgar bem – é fundamental. Como escreveu Paulo aos Filipenses:
"E peço isto: que o vosso amor cresça mais e mais em ciência e em todo o conhecimento, para que aproveis as coisas excelentes" (Filipenses 1:9-10).
Discernir qual resposta dar aos muros de nossos relacionamentos requer sabedoria.
A diferença não está no muro em si, mas em nossa resposta a ele.
O quão disposta você está para ver além da barreira aparente e descobrir, como escreveu T.S. Eliot, que "para chegar onde você está, para ir de onde você não está, você deve passar por um caminho no qual você não está jubiloso."?
Ou seja, para chegar ao lugar onde você deseja estar, é preciso passar por um caminho desconhecido e, desconfortável.
Isso significa que o crescimento e a transformação exigem atravessar desafios, abandonar velhos padrões e enfrentar o incerto.
Que este texto tenha trazido clareza e entendimento a você. Avalie e comente sobre o que achou no final dessa edição.
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